segunda-feira, 31 de julho de 2017

O que seria de nós sem as pedras no Caminho?



Semana passada estive em Curitiba. Entre uma reunião e outra, consegui andar um pouco pela cidade. As caminhadas, atualmente, são sempre acompanhadas de reflexões sobre a vida. É fruto do treinamento permanente do “pensar sobre o pensado”.

Pois bem, ao caminhar estava lembrando de conversas recentes com o querido amigo João, de Caruaru. Conheci-o em 2011, durante um projeto maravilhoso junto a alguns municípios.

Além dos desafios do projeto, as boas e divertidas conversas e uma visão muito parecida do mundo forjou nossa amizade. A correria da vida nos separou fisicamente durante alguns anos, mas, há pouco mais de dois meses, tive a oportunidade de reencontra-lo.

O tempo foi curto, apenas um chopp. Mas aquele encontro talvez tenha sido o mais intenso de todos. O diagnóstico de um tumor na próstata revelava a apreensão e insegurança do meu amigo pelo que estaria por vir. Mais uma coincidência da vida a nos unir, uma vez que há mais de um ano venho em tratamento por conta de um tumor na bexiga.

Nessas horas, a gente passa a valorizar mais o tempo que temos com as pessoas que gostamos. Nossos contatos via WhatsApp se tornaram constantes e, como sempre, as nossas conversas são divertidíssimas.

E foi assim que, ao andar por Curitiba, e me deparar com a rua desta foto, lembrei do querido João. Na verdade, a primeira lembrança que veio à mente, foi dos versos de Drummond:

No meio do caminho tinha uma pedra

Tinha uma pedra no meio do caminho

Tinha uma pedra

No meio do caminho tinha uma pedra

Fiquei refletindo sobre as pedras que encontramos pelo caminho, seu significado e o que fazemos com elas.

Se as enxergamos tão somente como obstáculos, perdemos a oportunidade de refletir sobre o aprendizado que elas nos impõem. De fato, a cada pedra que tiramos do caminho soma-se uma nova experiência, um novo jeito de encarar uma situação da vida ou até mesmo uma nova conquista. As pedras, ao contrário do que imaginei por muito tempo, não servem para nos parar. Ao contrário, ensina-nos novas maneiras de seguir em frente.

Nunca tinha pensado sobre estre prisma. Jamais pensei no que eu poderia fazer com as pedras do meu caminho. Ao ver a rua da foto, a ficha caiu!

Nossas pedras compõem nossa história e é nossa decisão o que fazer com elas. Você pode ignora-las. Isto é fácil: a cada pedra, uma lamentação, uma angústia, uma justificativa para não ser feliz.

Mas, se tivermos um pouco mais de sabedoria e serenidade, saberemos organizar cada uma das pedras, até que formem um caminho pavimentado. Caminho que você não percorrerá, uma vez que as pedras são seu passado. No entanto, você poderá deixa-lo pronto para que outros possam percorre-lo e aprender com seu aprendizado.

Para tanto, é preciso estar disposto a viver, registrar os momentos da vida e compartilha-los com quem amamos.

Assim, meu amigo João, digo-lhe de coração: tratamento contra o câncer é apenas mais uma pedra. Com ele, tenho aprendido a ser mais humano e menos exigente comigo mesmo. Tenho procurado ter mais momentos de felicidades, pois, a percepção da falibilidade humana nos torna mais sensíveis aos efeitos do tempo.

Tenho procurado não desperdiçar minha existência com coisas inúteis e também tenho tentado resgatar tudo aquilo que tem significado na minha vida.

Quero, quando chegar o dia de partir, olhar para trás e ver que pude construir uma rua como esta. Linda e útil para várias pessoas.

Quero olhar para trás e lembrar que nos caminhos da minha vida, pude compartilhar da bela experiência de ter amigos queridos como você. E, nas esquinas em que nossas vidas se encontram, quero ter a oportunidade de deixar construído um monumento à alegria e à amizade.

Fora isso, todo o resto, são apenas pedras. Pedras que ainda precisam ser compreendidas e colocadas à serviço de quem vem atrás de nós, seguindo nosso caminho.

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O personagem desta história é real. Nome e outras referências foram alterados para manter sua privacidade.


A bodega é um pequeno armazém, onde se encontra de tudo um pouco. Já o blog, é um tipo de  diário online. A Blogdega do Jec é exatamente a mistura dos dois conceitos: um espaço onde o leitor vai encontrar um pouco das minhas experiências e vivências pessoais. 

Em outras palavras, é uma bodega que contém pensamentos transformados em textos e, ao mesmo tempo, um blog com registros das minhas percepções do cotidiano.

É um espaço para o exercício do "pensar sobre o pensado", com foco no olhar positivo sobre a realidade.

A intensão é compartilhar meus aprendizados sobre a vida, deixando registrado um pequeno legado para ajudar todos que quiserem dele usufruir.

É um desafio à verdade limitante que tem raiz na timidez para expor meus pensamentos e pontos-de-vista. Por isso, não tem uma forma predefinida. Nem regras. Nem restrições.

Não tem qualquer pretensão literária ou acadêmica.

É um blog. É uma bodega. É uma Blogdega.