domingo, 27 de agosto de 2017

Gratidão pelos rastros deixados no caminho



Devemos exercitar mais a gratidão. Ao refletir sobre o hoje, olho para trás e, olhando os rastros que deixei pelo caminho, vejo o quanto tenho a agradecer.

Mais do que as lições aprendidas com a caminhada da vida, nossos rastros são as impressões que deixamos no mundo, nas pessoas. Alguns ainda teimam em olhar aquilo que deixaram de conquistar, fracassos e frustrações. Perdem-se, assim, no mar triste das lamentações.

Já corri muitas vezes por esse caminho. Aliás, quando me distraio, esse hábito vem à tona e tenta me conduzir pelo turvo caminho da culpa. Principalmente, quando as circunstâncias da vida não estão favoráveis. Nestas horas, qualquer problema funciona como um gatilho que dispara um tiro de sentimentos negativos.

Atualmente, tenho procurado mudar o foco. Quando a coisa aperta, olho para trás em busca do que fiz de bom, de pistas positivas que me levaram a ser o que sou hoje e das pequenas conquistas diárias que motivam a caminhada do dia-a-dia. E, quando a gente se permite a se fazer isso, a vida se encarrega de enviar inúmeros e intensos sinais de fumaça positiva.

Foi exatamente o que aconteceu nesta semana. Viajo muito por conta do trabalho e, dessa forma, tenho sempre que voltar em lugares em que já estive. Fui a São Luís, fazer uma palestra, depois de onze longos anos. Trabalho concluído, fui jantar de Jairo e Ana Izaura, amigos queridos, dos tempos da faculdade de Direito de Campina Grande.

A noite foi pequena para tanta conversa. Conversa boa, leve e muito alegre. Relembramos tantos fatos, tantas pessoas. Fizemos uma viagem ao longo do tempo que terminou com a reflexão dos valores que temos passados aos nossos filhos. Saí de lá, totalmente preenchido de sentimentos positivos e extremamente grato por aquele momento, que só foi possível por causa de uma amizade construída há mais de vinte anos.

Lembrei-me de uma linda passagem do livro As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino: “O viajante reconhece o pouco que é seu descobrindo o muito que não teve e o que não terá”.

Hoje valorizo o pouco que é meu nesta vida. A maior parte dos rastros que deixei são amizades como a de Izaura e Jairo e sou extremamente grato por cada uma delas.

terça-feira, 15 de agosto de 2017

Só provando




Nas minhas viagens procuro reservar um tempinho para conhecer algumas pessoas que possam me ensinar um pouco sobre a realidade local. São conversas informais, normalmente são momentos extremamente divertidos e, por vezes, inusitados. Mas, sempre são aprendizagens maravilhosas.

A última delas aconteceu semana passada, em Manaquiri/AM. Ao lado do prefeito e amigo Jair, fui conhecer a Feira do Produtor Rural de Manaquiri, uma iniciativa da prefeitura para escoar, na própria cidade, a produção dos diversos agricultores familiares que existem no município.

A feira é sensacional. É realizada toda sexta-feira, na quadra de esportes que fica no centro da cidade, na frente da prefeitura. Quem toma conta da feira e coordena todo o processo – da seleção dos produtores, até o controle sobre tudo o que foi comercializado – é o Mário, secretário municipal de Produção e Abastecimento.

Um minuto de conversa com ele e qualquer pessoa fica convencida da importância da feira enquanto política de inclusão socioeconômica dos produtores locais. E não são os argumentos técnicos os mais relevantes, mas sim, a comprovação de que tudo aquilo é feito com muito amor.

O trabalho começa cedo. Às 4:30 h da manhã, quando os produtores cadastrados começam a chegar, com suas “rabetas” (pequenos barcos movidos a motor de popa) no porto da cidade. Sim, há um cadastro! Só podem participar da feira aqueles que produzem produtos regionais e, para garantir a diversidade, existe uma seleção de acordo com o que o produtor vai levar para a feira. A equipe do Mário, a partir dessas informações, toma nota do que vai ser comercializado e da quantidade que cada produtor está levando para a feira. No final da manhã, é feito um levantamento sobre o quanto cada um vendeu. Assim, a prefeitura pode verificar se os produtores estão tendo lucro com a feira. É fantástico!!!

A prefeitura subsidia o combustível para cada um dos produtos que participa da feira e, às 4:30h, a equipe já está a postos para ajuda-los no transporte das mercadorias até o local da feira, que é aprontado desde à noite anterior. Às 6h em ponto, a feira é aberta, já com todos os produtos expostos e todos os produtores devidamente identificados com seus coletes verdes (o que rendeu o apelido de periquitos). A participação da população não deixa a desejar e, já nas primeiras horas, a procura por alguns itens é grande, fazendo-os esgotar rapidamente.

Foi o aconteceu comigo. Desde que cheguei em Manaquiri, na quinta-feira, que Mário e o prefeito fizeram a propaganda da farinha do Renan. Uma farinha especial, selecionada! Renan faz parte de um grupo de produtores da comunidade Andiroba e, desde que a feira começou (há 3 meses), a “farinha da Andiroba” ganhou fama.

Cheguei na feira por volta de 8h e, para minha supresa, quando fui comprar a tão falada farinha, soube que já tinha acabado e que Renan já havia ido embora! Pensei: Caramba! Se em menos de 2 horas, Renan vendeu tudo, precisa aumentar sua produção!!

Fiquei com um sentimento misto de frustração e felicidade. Frustração por não encontrar a farinha e felicidade por saber que, se há pouco tempo atrás aquele monte de produtores não tinha para quem vender sua produção, a iniciativa da prefeitura estava trazendo ganhos concretos para eles.

Mas, para minha surpresa, quando estávamos saindo, eis que surge Renan. O sorriso no rosto e o brilho no olhar não escondiam sua felicidade. Perguntado pelo prefeito por que havia trazido pouca farinha, foi logo respondendo: “Jair, não trouxe pouca não... É que os 120 litros que eu trouxe não deu pra quem quis. Mas, eu mandei pegar o restinho que tinha ficado lá em casa, para vender ainda hoje”.

Aí quem sorriu fui eu! Tratei logo de reservar minha encomenda e pedi para Renan deixar na prefeitura, onde estaria concluindo meu trabalho com a equipe do município.

No final da manhã, pouco antes da hora de ir embora, Renan me aparece com 12 litros de farinha. Um saco enorme que, certamente, eu não teria como embarcar no avião. Tratei de dividir a farinha com a equipe que estava trabalhando comigo e aproveitei a oportunidade para conversar um pouco com ele.

Aí soube de tudo! Antes da feira, os produtores da comunidade de Andiroba estavam com sérias dificuldades financeiras. Não tinham onde vender a farinha que produziam e, quando conseguiam fazê-lo, tinham que vender a preços muito baixo, para atravessadores. Contou-me que agora era diferente! Com a feira, os produtores vendiam diretamente para o consumidor local e que, ele já estava treinando outras pessoas da comunidade para aumentar a produção da farinha, pois, a demanda (inclusive de pessoas de Manaus) estava muito maior que a capacidade de produção deles.

Ao me entregar a farinha, não deixou que eu pagasse. Disse-me apenas o seguinte: leve minha farinha para Brasília. Diga que é a Farinha de Andiroba”, do Manaquiri! A melhor farinha que eles vão comer! E, que um dia venham aqui conhecer a nossa feira do produtor.

Provei a farinha ainda lá em Manaquiri. Impossível descrever quão gostosa ela é. Só provando...

domingo, 6 de agosto de 2017

Sinta-se Melhor




Ideias geniais sempre me estimularam. Nestes dias, em mais uma dessas viagens de trabalho, ao entrar no avião e sentar no meu assento, eis que me deparo com um daqueles saquinhos de vomitar. Tudo extremamente banal, ao não ser pela inscrição contida no saquinho: SINTA-SE MELHOR.

Olhei aquilo e fiquei lendo e relendo várias vezes. “Quem foi o gênio que pensou em colocar esta frase aqui? “, pensei. Sou daquelas pessoas que têm náuseas quando veem outra vomitar. Então, sempre olhei para esses saquinhos com muita desconfiança, temendo que alguém ao meu lado precisasse utilizar.

A inscrição SINTA-SE MELHOR me fez ter outro olhar sobre o saquinho. Poxa, para quem está com ânsia de vômito, dentro de um avião, nada mais importante do que o saquinho. E não tem jeito, a pessoa só vai se sentir melhor, quando vomitar. Só aí foi que percebi o quão nobre é a função do saquinho: fazer as pessoas que estão passando mal, ficarem melhor.

Logo pensei: precisamos de mais saquinhos! Saquinhos para vômitos emocionais. De fato, andamos cercados, por um lado, por intolerância e violência, por outro, por cobrança excessiva por resultados e competitividade exacerbada. Na política, o ambiente é desalentador, na economia, nem se fala.

Tudo isso nos dá ânsia de vômitos emocionais.

Fico imaginando roteiros cotidianos, de pessoas comuns. O cara acorda, vai tomar café e liga a televisão. No noticiário, só notícia ruim. Sai para trabalhar, liga o rádio e escuta todo o roteiro policial. O trânsito tira o restante de sua paciência. Nem são 9h da manhã e o cidadão já está impregnado de coisa ruim. E, a maioria, não se dá o direito de vomitar essas emoções. Ao contrário, somente as acumula e constrói para si, um roteiro de infelicidade, em casa, no trabalho, enfim, em todo lugar.

Precisamos exercitar os vômitos emocionais, e tirar de nós essas emoções ruins.

Um exercício bacana que tenho feito neste sentido é o “pensar sobre o pensado”. Tirar alguns momentos do dia para refletir sobre meu comportamento diante das situações que vida me impõe, tem me feito muito bem. Desconstruo (pré)conceitos, desisto de ficar conjecturando possibilidades negativas sobre as pessoas com quem me relaciono e, principalmente, avalio minha atuação nos ambientes em que estou.

Muitas vezes, pego-me refletindo sobre meus erros. Mas, ao invés de ficar me lamentando, procuro caminhos para que eu possa minimizar os danos causados e isso, eu posso garantir, tem me feito muito bem.

A sensação é a mesma de vomitar no saquinho, sensação de alívio. Assim, ao invés de acumular angustia e pessimismo, vou me desapegando dessas coisas ruins e construindo dias melhores.

E aí, percebo com é poderosa e verdadeira é a aquela inscrição genial do saquinho. Tente. Pratique o vômito emocional. Livre-se daquilo que te causa mal e SINTA-SE MELHOR.

sábado, 5 de agosto de 2017

Mais uma segunda-feira





Mais uma segunda-feira. Preparo-me para enfrentar os desafios da semana. Um cafezinho quente aquece, além do corpo, as angústias da alma.



Leio meu caderno de anotações e observo tudo aquilo que foi anotado na semana passada, mas não consegui realizar. Aquele velho sentimento de impotência diante dos compromissos não atendidos começa a tomar conta de mim. O pensamento me leva a tudo que deu errado até agora e este é o início de um triste caminho de lamentações que duraria até a próxima segunda-feira. Eu conheço “de cor” esse processo.



Peço outro café.



Mudo meu olhar sobre o caderno de anotações. Procuro por minhas conquistas. São pequenas conquistas diárias, algumas realmente banais, mas que representam aquilo que fiz de bom durante a semana. Folheando as páginas, percebo que estou cheio delas.



Isso me faz relembrar as escolhas que fiz ao longo da semana. Escolhas que determinaram as conquistas e frustrações registradas no meu caderno. O processo decisório sobre aquilo que vai ser feito e o que não vai nem sempre é fácil. Tem coisas que você queria demais poder ter realizado e que não conseguiu e tem aquelas que você nem queria tanto, mas que por determinada contingência, foram feitas. Não importa: o fazer e não fazer é um eterno processo de escolha que nem sempre você sairá vencedor.



E isso já me fez sofrer bastante. Eu estabelecida um rito de autoflagelação que era regado a lamentações e desculpas esfarrapadas para justificar as frustrações. Era o pensamento negativo estabelecendo, assim como um rio forma seu leito, um caminho de muita infelicidade.



Tenho aprendido, com as sessões com o Coach Ricardim, a controlar esses sentimentos e a mudar o leito do rio dos meus pensamentos. Hoje, tenho consciência da importância das escolhas diárias na formação de uma agenda positiva do meu viver. Não conseguirei realizar tudo o que é necessário, mas carrego o compromisso de me comprometer com o meu melhor naquilo que eu decidi fazer.



Assim, vou registrando tudo no meu caderno. Ao reler, relembro as escolhas. Fico feliz com as que acertei, mas não fico mais triste com aquelas que errei, afinal, a certeza do acerto não existe. A certeza nada mais é do que uma ilusão que amplifica nossos medos e nos impede de ousar. O imprevisível não é necessariamente ruim e é ele que nos dá a oportunidade de nos renovarmos a cada dia.



E, quando as coisas apertam de verdade, olho em volta. Agradeço a oportunidade de estar aqui e todas as dádivas da minha vida. Olho para meu caderno e vejo que ainda tenho páginas em branco. Páginas que poderei preencher com muitas pequenas conquistas diárias.



Respiro fundo. Tomo mais um gole do café. Estou pronto para mais uma semana.


Gestão de Ativos






Ontem, os amigos Lula e Alek foram almoçar, pela primeira vez na Camaritus. A tarde passou rápido e quando menos imaginei, já estava na hora de ir para o aeroporto. A despedida ficou com aquele gostinho de “queria ter ficado”.



Papo bom. Harmonia. Amizade. Eis alguns ingredientes da nossa tarde de quinta-feira, com cara de sexta ou sábado.



Minha viagem foi tranquila e cheguei em Brasília num piscar de olhos. Quando liguei o celular, dentre as várias mensagens, havia uma de Lula.



- Jec, chegou?



- Avião taxiando em Brasília, respondi.



- Preciso lhe dar um feedback.



- Diga, meu amigo!



- O amor e a união de vocês é um ATIVO GIGANTE. Vê-los juntos é inspirador.



Prendi o fôlego. Ele continuou:



- Passaria a tarde toda ali.



Ele percebeu que eu estava emocionado e arrematou:



- Mas sei que uma família tem seus problemas e funciona, muitas vezes, melhor nas fotos. Vocês vivem as fotos na real!



Não consegui escrever mais nada. Meus olhos encheram-se de lágrimas. Vi passar, em poucos segundos, todas as dificuldades que temos enfrentados nos últimos tempos. Tempos difíceis para todos nós.



As palavras de Lula acalentaram meu coração. Percebi que, realmente, nossa maior riqueza é o amor que nos une. Tudo pode passar, tudo pode acontecer, mas nada vai abalar nossos laços.



Peguei um Uber e, no caminho até em casa, fui relembrando quantos momentos felizes compartilhamos nessa vida. A saudade de vocês ficou insuportável.



Cheguei em casa, dei um beijo em Anne.



Em voz baixa agradeci a Deus o maior presente que ele me deu: minha família!



Esse amor é, verdadeiramente, nosso maior ativo. E é ele que vai nos sustentar durante todas os momentos difíceis que vamos enfrentar nesta vida.



Façamos, pois, uma boa gestão dessa riqueza!



Amo vocês.